Jornalismo Independente é o tema da primeira mesa de discussão da 12ª edição da Semana de Jornalismo

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Flora Pereira, Raul Boechat e Yan Boechat na 12ª Semana do Jornalismo.
Foto: Lucas Amarildo – Comunica! Empresa Jr. de Jornalismo

Jornalismo Independente tem sido um tema bastante discutido entre os estudiosos de mídia. Por isso,  a 12ª edição da Semana do Jornalismo trouxe, nesse 11 de Setembro, a mesa de discussão “Jornalismo ou Jornalista Independente? Como é o trabalho fora da ‘Grande Mídia‘”.

Eram três os convidados da mesa: Flora Pereira da Silva, jornalista responsável pelo projeto Afreaka; Yan Boechat, jornalista freelancer; e Raul Fitipaldi, jornalista e um dos fundadores do Portal Desacato. Inicialmente, cada convidado fez uma pequena apresentação de seu trabalho e área em que atuam. Depois, foi aberta a sessão de perguntas feitos pelo público.

A princípio, Flora comentou sobre sua experiência e interesse no continente africano. Com seu projeto independente chamado Afreaka, a jornalista buscou desmistificar a cultura de países da África e, principalmente, apresentar uma abordagem menos estereotipada de sua  população. Na área jornalística, Flora desenvolveu um jornal laboratório com as diversas comunidades que visitou. “A ideia era que cada país escrevesse um post sobre sua cultura local”, explicou. Além disso, a jornalista deixou claro sua visão sobre como é tratado o continente pela grande mídia, e apontou que o ideal seria sempre observarmos a África com um olhar mais horizontal, tentando entender a multiplicidade de sua população e cultura.

Já Yan Boechat comentou mais sobre o mercado jornalístico atual. Explicou que estamos vivendo um momento conturbado no ambiente jornalístico, onde as empresas estão procurando cada vez mais enxugar seu número de profissionais da área, tornando o mercado menos estável para os jornalistas. ”Fazer jornalismo de qualidade custa caro, e o pior é que vivemos em um contexto em que as pessoas não querem mais pagar pela informação”, disse. Quanto ao assunto Jornalismo Independente, Yan apontou várias questões, principalmente quanto à remuneração desses jornalistas. “Não me considero um jornalista independente, estou apenas desempregado”, brincou.

Por fim, Raul Fitipaldi nos apresentou informações mais focadas no tema da mesa. Um dos fundadores do Portal Desacato, site de jornalismo independente, ele explicou como funciona sua corporativa e em que medida esse ramo do jornalismo pode ser

a “salvação desses profissionais“. Com críticas ferozes ao governo, à universidade e aos detentores do monopólio midiático nacional, Raul se mostrou grande apoiador da criação de uma Lei de Meios, que favoreceria a equidade de oportunidades do direito de expressão do cidadão. “O jornalismo independente surge justamente pela omissão do governo, que vive fornecendo concessões somente para as grandes corporações” explicou.

Texto e foto por: Comunica! Empresa Júnior de Jornalismo

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Audálio Dantas conversa sobre o golpe militar, a crise da profissão e a política de democratização da comunicação brasileira

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Audálio Dantas na 12ª Semana do Jornalismo.
Foto: Matheus Faisting – Comunica! Empresa Jr. de Jornalismo

Audálio Dantas, o primeiro autor a realizar um lançamento de livro sem livros, retoma em “As Duas Guerras de Vlado Herzog” o episódio fundamental na história recente do país, o golpe de 1964. “Achava que era uma dívida como jornalista, já que eu vivi intensamente aqueles dias de terror e não anotei nada, porque não dava. Mas quando resolvi escrever percebi que estava lembrando dos detalhes, o que me ajudou na redação.” O livro relata a história de Vladimir Herzog e a ditadura militar brasileira, que entrou às 8h no DOI-CODI, órgão de repressão do regime, e de tarde estava morto. Para Dantas, o que preocupa é o desconhecimento da sociedade em relação aos acontecimentos daquela época.

Herzog foi o 12º jornalista preso em São Paulo, mas foi o primeiro em que a morte gerou protestos. “O Vlado foi a primeira vítima da ditadura a não ser sepultada em silêncio, fora do que acontecia rotineiramente, já que centenas de pessoas foram assassinadas no Brasil. Os caixões eram entregues, quando entregues, lacrados e com ordens para que não se falassem nada que seria pior. A maioria dos jovens desconhece essa história e é importante que isso não seja esquecido.”

Uma das propostas para que fatos decorridos na ditadura militar não sejam esquecidos foi a criação da Comissão da Verdade. Para Dantas, apesar de alguns setores da sociedade que acham tímidas as ações tomadas pela comissão, que procura reconstituir os crimes cometidos, é importante que a discussão sobre a opressão do regime volte à tona. “Vinte e um jornalistas foram mortos pelos militares antes de Vlado, em decorrência da tortura ou pelos supostos confrontos entre manifestantes e policiais.”

Em relação à profissão, Dantas reafirmou a importância do jornalismo para a sociedade. “A nossa profissão que tem um papel fundamental no que diz respeito à informação para a sociedade. A sociedade nunca será livre se não houve informação livre.” Ele também comentou a crise na qualidade do serviço prestado pelos profissionais da comunicação. “Os jornalistas estão deixando de se aprofundar, estar no cenário dos acontecimentos e transmitir de maneira eficaz. Com o enxugamento das redações, os jornalistas estão confinados a redações, onde cobrem por telefone, ou pior, por sites de informação. O valor fundamental do jornalismo é a credibilidade da informação”, completa.

A estruturação de novas políticas para democratização da comunicação não foi esquecida pelo palestrante. O jornalista defende a comunicação para atender as aspirações da sociedade e não no interesse exclusivo de quem produz comunicação. “A concessão de canais de televisão e rádio são feitas

de maneiras contrárias à maioria. A propriedade é do povo e a concessão é feita a aqueles que monopolizam a comunicação e precisamos continuar nos mobilizando para criar novas políticas.” Para Dantas, o jornalismo precisa participar dessa discussão, afinal, “quem escolhe o jornalismo tem o compromisso com a verdade.”

Texto e foto por: Comunica! Empresa Júnior de Jornalismo

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André Caramante relata seus meses de exílio na terceira noite de palestras da Semana

Desde o início de sua trajetória profissional, André Caramante, repórter da Folha de S.Paulo, cobre a área policial e de segurança pública. Seu primeiro emprego, assim que se formou na faculdade de Jornalismo, foi no extinto Notícias Populares, jornal que circulava em São Paulo. Trabalhava cerca de 12 horas por dia e recebia R$ 150,00 por mês. Em três semanas, foi promovido a repórter da madrugada. Sua primeira pauta foi o assassinato do próprio primo. Para o jornalista, foi o momento em que teve certeza que estava na profissão certa. “Precisava contar histórias como a do meu primo para as pessoas”.

Trabalhou até o fim do jornal e passou pela redação do Agora São Paulo antes de chegar à Folha. Foi no jornal que escreveu a matéria que o fez deixar o país com a família. Em uma notícia publicada em julho de 2012, Caramante afirmava que o vereador e ex-chefe da Rota, Paulo Telhada, incitava a violência em sua página no Facebook. A partir daí, as ameaças que já sofria por denunciar abusos cometidos pela Polícia Militar de São Paulo foram intensificadas e estendidas a sua família.

Hoje, 11/09, completa exatamente um ano que deixou o país com sua esposa e seus dois filhos. A decisão foi tomada em conjunto entre o jornalista, a esposa, que à época também trabalhava na Folha, e a direção do jornal. “Ser arrancado de casa me trouxe uma profunda sensação de tristeza. Nas ligações que eu recebi na redação, diziam que iam matar meus filhos.” Voltou para São Paulo três meses depois e desde então está em “quarentena”: as apurações são mais cautelosas e tudo que escreve passa cúpula da publicação.

Em conversa com os alunos e professores presentes, comentou a crescente dificuldade das coberturas na área de segurança pública em

função das demissões em massa nas redações. “Existe a mesma quantidade de coisas acontecendo e cada vez menos gente para cobrir”. Caramante também falou sobre a dificuldade de conquistar fontes nesse setor. “Tem que fazer uma triagem das informações para saber quem falou porque quer benefício pessoal e quem quer o benefício coletivo”. E aconselhou sobre as fontes oficiais: “Todo jornalismo tem que ser investigativo. É muito difícil quando você fica só com uma fonte. Se você pega um delegado espertalhão, ele te põe no bolso.”

Texto: Comunica! Empresa Júnior de Jornalismo

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O Sahafi brasileiro que mostrou o perigo e o fascínio que é representar a profissão

Klesler Cavalcante na 12a   Semana do Jornalismo. Foto: Willian Rotta / Comunica! Empresa Jr. de Jornalismo

Klesler Cavalcante na 12a Semana do Jornalismo.
Foto: Willian Rotta – Comunica! Empresa Jr. de Jornalismo

Jornalista há 18 anos, o pernambucano Klester Cavalcanti, apresentou-se na palestra de segunda-feira e contou a sua trajetória até chegar na Síria e ter sido refém dos maus tratos do exército em época de guerra. Cavalcanti já foi correspondente da revista Veja na Amazônia quando, em 2000 foi sequestrado quando fazia matéria de denúncia. Após isso, a Veja o mandou a São Paulo e trabalhou em revistas como a IstoÉ e a Caminhos da Terra. É autor dos livros Viúvas da Terra, Direto da Selva, O Nome da Morte e o mais recente Dias de Inferno na Síria. Os dois primeiros ganharam o Prêmio Jabuti de Literatura em 2005 e 2007.

Klester Cavalcanti foi o primeiro correspondente internacional na Síria em maio de 2012 que foi para a cidade de Homs. Durante a palestra, conta que é triste que não tenha nenhum jornalista brasileiro cobrindo a guerra na Síria, pois os correspondentes estão em outro país falando de acontecimentos que só tiveram contato pelas agências de notícias. Cavalcanti viu a realidade da Síria durante a guerra e afirma que só é possível relatar o sofrimento, a destruição, e todo o envolvimento político e religioso quem passou por isso.

“Eu queria ir para a cidade de Homs, onde a guerra estava acontecendo. Precisava ver como as pessoas estavam reagindo à guerra”. Cavalcanti explica que deveria passar antes no Ministério da cidade de Damasco, para então ir para Homs. Mas sabia que se passasse por lá, não deixariam ele ir à Homs pois era sahafi, jornalista, e iria falar de toda a destruição às pessoas e à cidade que ocorria. Então ele foi direto para a cidade, sendo logo preso pelo Exército Sírio no dia 19 de maio.

Durante o tempo que ficou no país, Cavalcanti foi preso por seis dias com 23 homens na mesma sela. Ele não podia tomar banho, dormia no chão e a água que bebiam não tinha tratamento adequado. Quanto às pessoas que dividia a sela, conta que havia humildade e por isso pôde se sentir acolhido. “Teve um dia que eu estava deitado num canto, muito angustiado. Aí um homem começou a cantar uma cantiga muçulmana e eu senti vontade de orar com eles. Levantei-me e fui cantar e, com medo de eles me reprimirem, fiquei mais ao fundo da sela. O homem da frente me puxou e me ensinou como se faziam os gestos. Foi quando eu absorvi muita energia positiva.”

 Klester Cavalcanti disse que hoje vê a situação da Síria de um ponto de vista diferente depois que foi pra lá, e por isso é tão importante passar por esse processo de conhecimento. O jornalista afirma que a questão dos Estados Unidos atacarem a Síria é um erro, pois não existem provas de que o governo de Bashar Al-Assad tenha utilizado armamentos químicos contra a população. Ele acrescenta que não é a favor do governo de Al-Assad, mas sabe que a oposição do governo é muito mais intolerante que o próprio Al-Assad. “Vi moças de minissaias em Damasco, e isso só acontece porque o governo é mais tolerante. Sem provas de quem tenha vindo o ataque é um ato de estupidez do governo americano, caso ataque a Síria. Isso pode se transformar numa terceira guerra mundial”.

Texto e foto por: Comunica! Empresa Júnior de Jornalismo

 

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Os tempos são outros, mas os conflitos ainda devem ser bem trabalhados de forma ética e intensa

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Letícia Duarte, Piero Locatelli e Renan Antunes na 12a Semana do Jornalismo

A mesa de discussão da última sexta-feira (13) teve a presença dos jornalistas Letícia Duarte, Piero Locatelli e Renan Antunes de Oliveira que discutiram sobre o tema O Olhar do repórter na cobertura de conflitos urbanos. Letícia é atual repórter de política do jornal Zero Hora e em 2012 ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo com a reportagem Filho da Rua, em que acompanhou um menino de rua por três anos que estava no início do consumo de crack e longe da família. Ela conta que a sua reportagem é uma vontade que ela tinha em querer ver e sentir a realidade de meninos de rua, a fim de passar isso com o seu olhar para o público.

Os jornalistas Piero Locatelli e Renan Antunes também vivenciaram conflitos de rua marcantes. Piero Locatelli recentemente foi preso durante as manifestações por policiais militares pois portava vinagre durante o protesto contra o aumento da tarifa em São Paulo. Além dele, outros manifestantes foram detidos por portar o produto que diminui os efeitos do gás lacrimogênio utilizado pela Polícia. Ele é repórter do site CartaCapital. Renan Antunes ganhou o Prêmio Esso de reportagem, em 2004, com a matéria Tragédia de Felipe Klein, que conta a história de um jovem gaúcho que suicidou. Já foi repórter da Revista Veja, Gazeta do Povo, RBS, IstoÉ e correspondente internacional do Estadão em Nova Iorque.

A plateia questionou a questão da produção da grande reportagem atualmente em que a internet está sendo muito utilizada e como fica toda a questão de sustentabilidade que envolve a substituição do papel pelo online. Letícia Duarte afirma que há espaço para a grande reportagem visto que a conquista do Esso é muito reconhecida pelo jornalismo e pelas pessoas. Acrescenta que ganhou 16 páginas para a produção da reportagem e que, graças esse espaço, pode descrever muitos detalhes que inseriam o leitor naquela realidade a fim de mostrar o que ela presenciou.

Piero Locatelli concorda com a opinião de Letícia Duarte, e afirma que não é uma postagem no Facebook que vai contar tudo o que acontece e que temos que dar valor ao trabalho feito em todas as mídias, desde vídeos até textos. Locatelli diz que estar na rua significa ver muita coisa. Foi

o caso quando fez um livro de 100.000 caracteres, que dava pouco menos de 100 páginas, depois de presenciar os protestos. Já Renan Antunes, dá valor à reportagem, mas afirma que a folha do jornal vai acabar. Conta que não compra mais nada de papel, lê tudo no seu ipad pela facilidade e consciência sustentável.

Piero Locatelli foi questionado pela plateia quanto à sua opinião sobre a mídia ninja e se ele pensa nela como um futuro pro jornalismo. Ele acredita que ela possa ser um dos caminhos e que o lado bom é que a mídia ninja é uma demanda principalmente dos manifestantes: “É como futebol, em que a atualização é feita a cada minuto do jogo”. Mas critica o modo como as pessoas do mídia ninja veem os repórteres ao afirmar que viu quando um deles filmava os protestos e falou que ali tinha um repórter querendo fazer uma matéria pro patrão. Afirma que os jornalistas deveriam se fortalecer enquanto classe, independente pra que veículo ou jornal estão trabalhando. “Manter jornalista dá trabalho, custa caro, não é ato de caridade”. Comenta que o mídia desvaloriza a profissão também ao liberar fotos, vídeos, textos de graça pois isso é uma precarização do trabalho.

Renan Antunes dá continuidade à resposta de Locatelli e acrescenta que os jornalistas deveriam dar mais valor aos seus trabalhos principalmente quando estão ou na Veja, na Globo, RBS, veem algo errado e simplesmente aceitam o modo como é feito. “Concordamos com o sistema e não fazemos a diferença, apoiamos o erro apenas para vender a mercadoria. Pois informação é mercadoria, e cara”. Conta ainda que em 1970 ele saía as ruas, apanhava em cada esquina, voltava pra redação para escrever, e erra isso. Eles não questionavam nem desafiavam o porquê aquilo acontecia. E acrescenta que é a mesma coisa do mídia ninja pois ninguém ousa desafiar o que está sendo feito e o modo como fazem.

Renan Antunes finaliza a discussão ao alertar aos estudantes de jornalismo a aproveitar o tempo de faculdade para conhecer o mundo e nos conhecer, principalmente. O método como são os estudos na faculdade nos faz imitar modelos o tempo todo, mas é importante que nós criemos o nosso modelo. “Agora nesse momento de crise do jornalismo, saibam que a culpa não é do jornalismo, e sim das expectativas que vocês jogam em cima do jornalismo. Não significa que se o jornalismo não vai bem, a felicidade de vocês também não vai”. Finaliza com a reflexão de que os jornalistas não são só jornalistas, são pais, mães, namorados, amigos e não podemos nos privar de tudo pois trabalhamos pela por alguma causa, temos que viver antes de mais nada.

Texto e foto por: Comunica! Empresa Júnior de Jornalismo

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Holocausto Brasileiro: Daniela Arbex reconta o episódio do Hospital Colônia em Minas Gerais.

Daniela Arbex na 12ª Semana do Jornalismo. Foto: Willian Rotta – Comunica! Empresa Jr. de Jornalismo

Daniela Arbex na 12ª Semana do Jornalismo.
Foto: Willian Rotta – Comunica! Empresa Jr. de Jornalismo

Quem conhece o mínimo da história dos judeus na Segunda Guerra Mundial ao menos imagina como eram suas vidas nos campos de concentração. Entretanto, o que pouca gente sabe é que algo muito parecido também aconteceu no Brasil. Daniela Arbex, jornalista do Tribuna de Minas, nos apresenta um episódio aterrorizante e surpreendentemente semelhante ao holocausto nazista, o qual denomina Holocausto Brasileiro.

O Hospital Psiquiátrico Colônia de Barbacena, fundado no ano de 1903, em Minas Gerais, foi o tema abordado por uma série de sete reportagens investigativas para o Jornal Tribuna de Minas. O trabalho jornalístico, feito por Daniela, conta a rotina do hospital psiquiátrico acusado de

tratamento desumano aos seus pacientes durante quase três décadas. Descobriu-se que mais de 60 mil pessoas perderam a vida no hospital, o qual não tinha sequer critérios médicos para a internação de pacientes. Homossexuais, prostitutas, pessoas com dificuldades de interação social, todos faziam parte do leito de pacientes do hospital psiquiátrico que, na realidade, possuía como minoria pacientes com reais distúrbios mentais. Além disso, a jornalista também mostra várias histórias ocorridas no hospital e, exemplificando tamanha atrocidade, conta como os pacientes eram obrigados a permanecer nus durante todo o tempo e a viverem em um ambiente onde a violência sexual era quase que rotineira.

A série de reportagens, que posteriormente forneceu a base para o livro Holocausto Brasileiro, foi um trabalho árduo de investigação jornalística. Com visitas ao Museu da Loucura, entrevistas com sobreviventes do episódio, e muita pesquisa, Daniela Arbex recontou a história do Hospital Colônia. Com a ajuda de Luiz Alfredo, fotógrafo com o maior registro de imagens do hospital, a jornalista conseguiu mostrar, de forma mais chocante, o sofrimento dos pacientes do manicômio. “A gente lida com muitas tragédias, vê muitas mortes. Mas aquilo não era acidente, era um crime, um assassinato em massa”, explica o fotógrafo.

Outro fato impressionante descoberto no processo investigativo era o comércio entre o hospital e determinadas universidades. A jornalista explicou como a venda de corpos de pacientes geraram um acúmulo de 60 mil reais ao hospital psiquiátrico. Além disso, com entrevistas aos sobreviventes do hospital, Daniela conseguiu resgatar muitas histórias e diversas declarações para a produção de seu trabalho. “Se existe inferno, o Colônia é esse lugar” conta Cabo, um dos poucos pacientes ainda vivos que passaram pelo manicômio.

Como resultado desse trabalho, o governo de Minas Gerais reconheceu oficialmente a culpa pelas mortes no hospital. Além disso, também pôde ser construído um memorial aos pacientes, e muitas famílias puderam conhecer o destino de seus parentes lá internados. Mas, segundo a própria jornalista, a mais importante consequência desse trabalho foi a eternização

dessa história. A história dos milhares de pacientes que passaram por aquele campo de concentração, também conhecido como Hospital Psiquiátrico Colônia de Barbacena.

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12ª edição da Semana tem início com palestra de Matthew Shirts

Matthew Shirts na 12a Semana do Jornalismo Foto: Comunica! Empresa Jr. de Jornalismo

Matthew Shirts na 12a Semana do Jornalismo
Foto: Comunica! Empresa Jr. de Jornalismo

No dia 6 de setembro, a 12ª edição da Semana do Jornalismo teve sua abertura oficial com a palestra do editor-chefe da revista National Geographic Brasil, Matthew Shirts. O jornalista iniciou a apresentação dando uma verdadeira aula sobre a publicação, cuja edição original comemora seus 125 anos. Ele contou a história de como a ONG criada por pesquisadores e exploradores para mapear o território mundial se transformou em uma revista que se mantém até hoje em 36 países.

Grande parte desse sucesso se deve ao inventor Alexander Graham Bell, que assumiu a frente da publicação oito anos após seu lançamento, em 1896, quando já estava indo à falência. O cientista escocês revolucionou o projeto editorial da revista que, ao invés de publicar artigos científicos, passou a contar histórias de viagens aos lugares mais interessantes do mundo em uma linguagem que qualquer pessoa pudesse entender. Em seguida,

contratou Gilbert Grosvenor, que iniciou as experimentações com imagens e deu à revista a característica que a difere até hoje: a fotografia como destaque.

Todo o valor arrecadado com as assinaturas da publicação passou a ser utilizado para o financiamento de pesquisas e expedições. Durante esses 125 anos, milhares de projetos puderam ser fotografados para as páginas da revista. Entre os mais famosos estão a exploração de Machu Picchu, o primeiro mergulho com um quilômetro de profundidade, os detalhes da carcaça do Titanic e o retrato da “menina afegã”. Dos mais atuais, se destaca o registro de leões feitos com drones e robôs no norte da Tanzânia.

Matthew Shirts encerrou sua visita falando sobre as formas atuais de publicação e o jornalismo digital. Segundo ele, as vendas da edição norte-americana

aumentaram nos últimos anos graças à versão para tablets. Sobre o mercado de trabalho, aconselhou os estudantes presentes: “o mundo da reportagem hoje preza pelos vídeos. Se eu fosse jornalista hoje, me dedicaria a aprender mais sobre essa área. Não tenho dúvidas de que o futuro é por aí”.

Texto e foto por: Comunica! Empresa Júnior de Jornalismo

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