André Caramante relata seus meses de exílio na terceira noite de palestras da Semana
Desde o início de sua trajetória profissional, André Caramante, repórter da Folha de S.Paulo, cobre a área policial e de segurança pública. Seu primeiro emprego, assim que se formou na faculdade de Jornalismo, foi no extinto Notícias Populares, jornal que circulava em São Paulo. Trabalhava cerca de 12 horas por dia e recebia R$ 150,00 por mês. Em três semanas, foi promovido a repórter da madrugada. Sua primeira pauta foi o assassinato do próprio primo. Para o jornalista, foi o momento em que teve certeza que estava na profissão certa. “Precisava contar histórias como a do meu primo para as pessoas”.
Trabalhou até o fim do jornal e passou pela redação do Agora São Paulo antes de chegar à Folha. Foi no jornal que escreveu a matéria que o fez deixar o país com a família. Em uma notícia publicada em julho de 2012, Caramante afirmava que o vereador e ex-chefe da Rota, Paulo Telhada, incitava a violência em sua página no Facebook. A partir daí, as ameaças que já sofria por denunciar abusos cometidos pela Polícia Militar de São Paulo foram intensificadas e estendidas a sua família.
Hoje, 11/09, completa exatamente um ano que deixou o país com sua esposa e seus dois filhos. A decisão foi tomada em conjunto entre o jornalista, a esposa, que à época também trabalhava na Folha, e a direção do jornal. “Ser arrancado de casa me trouxe uma profunda sensação de tristeza. Nas ligações que eu recebi na redação, diziam que iam matar meus filhos.” Voltou para São Paulo três meses depois e desde então está em “quarentena”: as apurações são mais cautelosas e tudo que escreve passa cúpula da publicação.
Em conversa com os alunos e professores presentes, comentou a crescente dificuldade das coberturas na área de segurança pública em
função das demissões em massa nas redações. “Existe a mesma quantidade de coisas acontecendo e cada vez menos gente para cobrir”. Caramante também falou sobre a dificuldade de conquistar fontes nesse setor. “Tem que fazer uma triagem das informações para saber quem falou porque quer benefício pessoal e quem quer o benefício coletivo”. E aconselhou sobre as fontes oficiais: “Todo jornalismo tem que ser investigativo. É muito difícil quando você fica só com uma fonte. Se você pega um delegado espertalhão, ele te põe no bolso.”
Texto: Comunica! Empresa Júnior de Jornalismo