Os tempos são outros, mas os conflitos ainda devem ser bem trabalhados de forma ética e intensa
A mesa de discussão da última sexta-feira (13) teve a presença dos jornalistas Letícia Duarte, Piero Locatelli e Renan Antunes de Oliveira que discutiram sobre o tema O Olhar do repórter na cobertura de conflitos urbanos. Letícia é atual repórter de política do jornal Zero Hora e em 2012 ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo com a reportagem Filho da Rua, em que acompanhou um menino de rua por três anos que estava no início do consumo de crack e longe da família. Ela conta que a sua reportagem é uma vontade que ela tinha em querer ver e sentir a realidade de meninos de rua, a fim de passar isso com o seu olhar para o público.
Os jornalistas Piero Locatelli e Renan Antunes também vivenciaram conflitos de rua marcantes. Piero Locatelli recentemente foi preso durante as manifestações por policiais militares pois portava vinagre durante o protesto contra o aumento da tarifa em São Paulo. Além dele, outros manifestantes foram detidos por portar o produto que diminui os efeitos do gás lacrimogênio utilizado pela Polícia. Ele é repórter do site CartaCapital. Renan Antunes ganhou o Prêmio Esso de reportagem, em 2004, com a matéria Tragédia de Felipe Klein, que conta a história de um jovem gaúcho que suicidou. Já foi repórter da Revista Veja, Gazeta do Povo, RBS, IstoÉ e correspondente internacional do Estadão em Nova Iorque.
A plateia questionou a questão da produção da grande reportagem atualmente em que a internet está sendo muito utilizada e como fica toda a questão de sustentabilidade que envolve a substituição do papel pelo online. Letícia Duarte afirma que há espaço para a grande reportagem visto que a conquista do Esso é muito reconhecida pelo jornalismo e pelas pessoas. Acrescenta que ganhou 16 páginas para a produção da reportagem e que, graças esse espaço, pode descrever muitos detalhes que inseriam o leitor naquela realidade a fim de mostrar o que ela presenciou.
Piero Locatelli concorda com a opinião de Letícia Duarte, e afirma que não é uma postagem no Facebook que vai contar tudo o que acontece e que temos que dar valor ao trabalho feito em todas as mídias, desde vídeos até textos. Locatelli diz que estar na rua significa ver muita coisa. Foi
o caso quando fez um livro de 100.000 caracteres, que dava pouco menos de 100 páginas, depois de presenciar os protestos. Já Renan Antunes, dá valor à reportagem, mas afirma que a folha do jornal vai acabar. Conta que não compra mais nada de papel, lê tudo no seu ipad pela facilidade e consciência sustentável.
Piero Locatelli foi questionado pela plateia quanto à sua opinião sobre a mídia ninja e se ele pensa nela como um futuro pro jornalismo. Ele acredita que ela possa ser um dos caminhos e que o lado bom é que a mídia ninja é uma demanda principalmente dos manifestantes: “É como futebol, em que a atualização é feita a cada minuto do jogo”. Mas critica o modo como as pessoas do mídia ninja veem os repórteres ao afirmar que viu quando um deles filmava os protestos e falou que ali tinha um repórter querendo fazer uma matéria pro patrão. Afirma que os jornalistas deveriam se fortalecer enquanto classe, independente pra que veículo ou jornal estão trabalhando. “Manter jornalista dá trabalho, custa caro, não é ato de caridade”. Comenta que o mídia desvaloriza a profissão também ao liberar fotos, vídeos, textos de graça pois isso é uma precarização do trabalho.
Renan Antunes dá continuidade à resposta de Locatelli e acrescenta que os jornalistas deveriam dar mais valor aos seus trabalhos principalmente quando estão ou na Veja, na Globo, RBS, veem algo errado e simplesmente aceitam o modo como é feito. “Concordamos com o sistema e não fazemos a diferença, apoiamos o erro apenas para vender a mercadoria. Pois informação é mercadoria, e cara”. Conta ainda que em 1970 ele saía as ruas, apanhava em cada esquina, voltava pra redação para escrever, e erra isso. Eles não questionavam nem desafiavam o porquê aquilo acontecia. E acrescenta que é a mesma coisa do mídia ninja pois ninguém ousa desafiar o que está sendo feito e o modo como fazem.
Renan Antunes finaliza a discussão ao alertar aos estudantes de jornalismo a aproveitar o tempo de faculdade para conhecer o mundo e nos conhecer, principalmente. O método como são os estudos na faculdade nos faz imitar modelos o tempo todo, mas é importante que nós criemos o nosso modelo. “Agora nesse momento de crise do jornalismo, saibam que a culpa não é do jornalismo, e sim das expectativas que vocês jogam em cima do jornalismo. Não significa que se o jornalismo não vai bem, a felicidade de vocês também não vai”. Finaliza com a reflexão de que os jornalistas não são só jornalistas, são pais, mães, namorados, amigos e não podemos nos privar de tudo pois trabalhamos pela por alguma causa, temos que viver antes de mais nada.
Texto e foto por: Comunica! Empresa Júnior de Jornalismo